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Festa Literária Internacional Homenageia Gilberto Freyre em Paraty(RJ)


Começou essa Quarta (04/08) a Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro. O evento traz estudiosos da literatura alem de discursões acerca de varios temas trabalhados por uma variedade de escritores. O evento vai de quarta feira(04/08) até o domingo (08/08). Uma das atrações do evento é o Debate acerca de varias literaturas de Gilberto Freyre. A primeira, que aconteceu dia 04/08, teve como convidados o sociologo e ex-presidente da Republica, Fernando Henrique Cardoso, autor do prefacio da nova edição do livro "Casa-Grande & Senzala", alem de ser um dos principais interpretes do autor no Brasil. 

No dia 06/08 novos debates aconteceram, esses no entanto acerca de outras obras. O "Nordeste" foi debatido pelo africanista Alberto Costa e Silva: "O livro mostra como a cana de açúcar foi um elemento estabilizador da colonização portuguesa no Nordeste do Brasil, em particular na Zona da Mata. Freyre afirma que o negro também foi colonizador e civilizador do Brasil, na mesma medida em que o português. Ele oferece assim uma dimensão nova à presença africana no Brasil, ausente mesmo em Sergio Buarque e Caio Prado Jr. Gilberto Freyre estuda o bicho de pé, o cafuné, os doces, a rede de dormir, coisas aparentemente sem importância, e descobre nesses pequenos elementos novos significados, sobretudo no livro "Nordeste"".
 Além dele outros estudiosos como Maria Lúcia Pallares-Burke,autora da biografia "Gilberto Freyre, um vitoriano nos trópicos" e que debateu acerca da obra "Ingleses no Brasil": “É a obra de um apaixonado pela cultura inglesa. Freyre dizia ter vivido uma fase paradisíaca de sua vida na Inglaterra. Publicado em 1948, esse livro estuda o impacto material e imaterial da cultura brutânica na nossa formação, sobretudo após a aberura dos portos aos produtos ingleses, em 1808.” 
 A sociologa Ângela Alonso também participou da mesa e debateu acerca da obra "Ordem e Progresso": “Nesse livro Freyre chama seu método de sociologia proustiana, com liberdade narrativa e uma prosa em espiral, que volta sucessivas vezes aos mesmos temas. É menos um discurso de finalmentes que uma conversa de aliás. Além disso, ele humaniza personagens históricos, aproximando-os do leitor, e usa fontes insólitas, como rótulos de cerveja e anúncios de jornais, onde ele fareja uma explicação para a transição entre dois padrões de sociedade”.

Nesse domingo (08/08) aconteceu a ultima mesa em homenagem a Gilberto Freye com a participação do sociólogo José de Souza Martins, do historiador Peter Burke e do antropólogo Hermano Vianna. O primeiro a debater foi Peter Burke, autor do livro "Repensando os Trópicos" e que trouxe a ideia de "mestiçagem cultural" e "hibridismo cultural", baseadas na realidade do multiculturalismo e fala nessas ideias como formas para repensar as obras de Freyre, devido a relevância e a necessidade de adaptar-las às novas realidades.

"Freyre aplicou a ideia de mestiçagem cultural ao analisar diversos temas, como o nosso furebol "mulato", que incorpora elementos da capoeira e do samba, a nossa literatura, que mistura ficção e análise social nos romances de Jorge Amado, e até mesmo o nosso sexo. Ao escrever sobre sexo, Freyre usou um vocabulário muito rico, que reflete a interpenetração entre diferentes culturas", disse Burke, "Mas uma cultura não é um texto, não é uma lingaugem, apesar de as duas apresentarem analogias. Então é preciso tomar cuidado ao pensar numa tradução cultural pura e simples", completou. "A partir da obra aberta por Freyre(...)", diz Burke, "(...)pode-se agora avançar no conceito de tradução cultural, importante porque, no mundo contemporâneo, estamos permanentemente traduzindo idéias, objetos, práticas. “São Jorge pode ser visto como a tradução católica de Ogum”, exemplifica. "No começo do século passado, havia certa rejeição ao que se chamava estrangeirismo", lembra. “Graciliano Ramos chegou a escrever, nos anos 1920, que jogar futebol não era para brasileiros. Depois, Freyre disse que era muito fácil adaptar o futebol para o Brasil. “Quem tinha razão?”, concluiu.

Após seu comentario, foi a vez de José de Souza Martins, apontado pelo mediador do debate  Benjamim Moser, como o maior sociólogo brasileiro vivo, entrar no debate. José de Souza Martins falou sobre a capacidade de adaptação do brasileiro, ponto importante na obra de Freyre, alem de lembrar que o autor se preocupou com as minuncias da realidade social, enquanto que sociologos contemporâneos se preocupam apenas em procurar "coisas grandes". "Há certo desprezo pelas minúcias e isso empobrece a sociologia”, acrescentou. "A grande questão de Freyre que vai ganhar grande destaque nesta época é a questão racial, especialmente a do negro", pontuou. Além disso observou que Freyre destacou a diversidade étnica entre os negros, e comentou que havia escravos até mais cultos do que os senhores, e apontou a ascensão social dos negros que a casa grande escolhia. “Se o negro ativista brasileiro de hoje não prestar atenção à diversidade de suas origens, rejeitando a idéia de uma escravidão genérica, vai acabar formando uma idéia política equivocada”, assinalou, acrescentando que “reconhecer a diversidade implica em reconhecer que o Brasil retratado por Freyre ainda existe”.

 Hermano Vianna foi o ultimo a debater junto com os convidados sobre Gilberto Freyre, e falou sobre a importancia de Gilberto Freyre, tanto com inspiração pessoal, quanto como fonte de informação para se observar o Brasil. Para o antropólogo, “interessante hoje em dia é pegar as idéias de Freyre e radicalizá-las. Temos que tirar o elogio da mestiçagem do contexto de sua obra e usá-lo para combater o racismo”.

Vianna resumiu o conteúdo do debate ao observar que Gilberto Freyre tinha afã de comparar as coisas, e evitava fazer conclusões. Falava de sua gula de intelectual “como a de um menino diante de uma tijela de canjica” e fazia o “elogio do inconcluso, do diverso e do contraditório”. Nesse sentido, concordaram os participantes, Gilberto Freyre é uma obra aberta, que se projeta para o futuro.


Com isso encerramos nossa Reportagem sobre a FLIP 2010. Esperamos que tenham gostado e aguardem novos eventos literários, que serão comentados aqui no blog

Agradecido

Raphael C. P. de Almeida



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